Não é todos os dias que podemos escutar Fernando Pessoa, e os seus heterónimos, desta forma:
A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada, descuidada.
Caiu, e eu fiz-me em mais pedaços do que havia loiça no vaso.
Fiz barulho na queda como um vaso que se partia.
E os deuses que há debruçam-se da escada.
Para ver o que a criada fez de mim
Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
E os deuses que há debruçam-se da escada
E sorriem à criada
Não se zanguem com ela.
São tolerantes...
A minha alma partiu-se como um vaso vazio
Caíu, partiu-se, caíu
A minha alma partiu-se como um vaso vazio
Caíu, partiu-se, caíu
O que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio
O que era eu, o que era eu?
Alastra a escadaria atapetada de estrelas.
Ao fundo um caco brilha entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
E os deuses olham-o por não saber por que ficou ali.
Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
O que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio
O que era eu, o que era eu?
Ai, o que era eu, o que era eu?
Um vaso vazio
O que era eu, o que era eu?
Na Véspera de não Partir Nunca
Na véspera de não partir nunca
Ao menos não há que arrumar malas
Nem que fazer planos em papel,
Com acompanhamento involuntário de esquecimentos,
Para o partir ainda livre do dia seguinte.
Não há que fazer nada
Na véspera de não partir nunca.
Grande sossego de já não haver sequer de que ter sossego!
Grande tranqüilidade a que nem sabe encolher ombros
Por isto tudo, ter pensado o tudo
É o ter chegado deliberadamente a nada.
Grande alegria de não ter precisão de ser alegre,
Como uma oportunidade virada do avesso.
Há quantas vezes vivo
A vida vegetativa do pensamento!
Todos os dias sine linea
Sossego, sim, sossego...
Grande tranqüilidade...
Que repouso, depois de tantas viagens, físicas e psíquicas!
Que prazer olhar para as malas fítando como para nada!
Dormita, alma, dormita!
Aproveita, dormita!
Dormita!
É pouco o tempo que tens! Dormita!
É a véspera de não partir nunca!
Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa
Não: não digas nada!
Não: não digas nada!
Supor o que dirá
A tua boca velada
É ouvi-lo já
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias.
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.
És melhor do que tu.
Não digas nada: sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê.
Fernando Pessoa, 5/6-2-1931
Ena bem caganda post...a sério...é grande que se farta :D
ResponderEliminarGrande post, no sentido de qualidade, e tamanho também, vá.
ResponderEliminarJá tive aqui esse álbum, não gostei muito. Assim na mesma onda, gosto por exemplo da música Me gustas cuando callas, das Brazilian Girls, que é um poema de Pablo Neruda.
ResponderEliminarO google diz que isto é um vídeo do que falo, mas não consigo ver agora se é mesmo:
www.youtube.com/watch?v=Ov0q58AL8OY
Esse video é ao video...envio outro que é melhor: http://www.youtube.com/watch?v=AdSEjTExjx8
ResponderEliminarMas também gosto mt dessa música.